Por Gabriel Rezende, 15/06/2020 às 15:49 – para Portal Itatiaia
Nos últimos dias, as redes sociais têm passado por uma overdose de fotos de internautas com uma caraterística peculiar: o gênero alterado. De famosos a pessoas comuns, a edição, aparentemente inocente, feita pelo aplicativo FaceApp, satisfaz a curiosidade de como você seria caso nascesse com sexo oposto. Contudo, o uso indiscriminado reascende o debate sobre a privacidade de dados.
O alerta é feito pela especialista em segurança digital Gracielle Torres. De acordo com ela, ao baixar e utilizar um aplicativo como esse, você automaticamente aceita os termos de uso e privacidade. “Seus dados pessoais podem ser coletados e utilizados conforme o que está disposto nos termos”, diz.
Entre algumas informações que o usuário pode aceitar transmitir aos aplicativos estão hábitos de navegação e de consumo e até deslocamento. Com esses dados, determinado sistema pode traçar um perfil do usuário. “Sem uma política de privacidade adequada, essas informações podem sofrer vazamentos sem qualquer ônus de responsabilidade para o desenvolvedor”, explica Gracielle.
FaceApp e apps de edição de imagens
No caso específico do FaceApp, aplicativo que já havia caído na graça dos internautas no ano passado com recurso de envelhecimento facial, os termos de uso preveem, entre outros pontos, acesso a “quanto tempo você gastou em uma página ou tela, caminhos de navegação entre páginas ou telas, informações sobre sua atividade, horários e duração de uso”.
“Nossos provedores de serviços e alguns terceiros (por exemplo, redes de publicação on-line e seus clientes) também podem coletar este tipo de informação ao longo do tempo bem como entre sites e aplicativos móveis de terceiros […]”, cita trecho do termo de uso.
O problema está longe de ser uma exclusividade do FaceApp. A especialista recomenda atenção especial com aplicativos da categoria de edição de fotos e embelezamento. “Eles pedem acesso à sua câmera e armazenamento no dispositivo e recebem suas fotos que você as envia para serem editadas, montadas ou transformadas, como no caso do FaceApp”, explica.
“O grande risco aqui é que as informações coletadas anteriormente podem ser associadas às suas fotos para aperfeiçoamento de sistemas de reconhecimento facial. Caso essas informações vazem e caiam nas mãos de criminosos, esse poderosíssimo banco de dados pode ser utilizado, inclusive para falsificar identidades”, alerta.
Termo de uso
Ler os termos antes de usar o aplicativo é fundamental. “O grande problema é que, como os termos são extensos, a maioria das pessoas não os lê e, além disso, muitos não se preocupam com o que pode acontecer com seus dados pessoais”, explica Gracielle.
Uma pesquisa recente, realizada pela Symatec, aponta que 68% dos usuários entrevistados aceitam compartilhar dados particulares em troca de um aplicativo gratuito. “Isso alimenta o desenvolvimento de apps desse tipo, que ‘aparentemente’ oferecem um serviço gratuito, mas, na verdade, você o está pagando com seus dados pessoais”, diz Gracielle.
“Basta imaginar o trabalho e horas gastas no desenvolvimento de um aplicativo. O desenvolvedor precisa ser remunerado de alguma forma e geralmente o faz através de publicidade ou coleta de dados pessoais”, explica.
Permissões
Uma dica que a especialista deixa é verificar as permissões concedidas após instalar o aplicativo, revogando acesso aos dados mais relevantes. “Muitas vezes um aplicativo simples como uma calculadora, por exemplo, pode pedir acessos desnecessários, como acesso a contatos, câmera, microfone etc. É preciso observar a coerência entre as permissões solicitadas e as funcionalidades que o app oferece”.
“É bom você rever a importância que esse app tem para você, desinstalá-lo ou pesquisar por outros semelhantes menos invasivos. Para visualizar as permissões após a instalação do aplicativo basta ir em Configurações > Aplicativos > Permissões do App”, explica Gracielle.
Fonte: www.itatiaia.com.br